foto agregada por ALINE CASTRO
O movimento começa a se diferenciar
José Augusto Valente
Até agora os protestos aparentavam ser um movimento homogêneo de participação democrática. Como diz o povo: “junto e misturado”. No entanto, se ele ainda continua “junto”, vai ficando cada vez menos “misturado”. O apoio consensual que tem da sociedade se deve precisamente porque o movimento ainda não se definiu politicamente. Porém, na medida em que o apoio se amplia em direção de setores da classe média, o movimento de massas passa ser objeto das estratégias da mídia e da oposição visando instrumentalizá-lo para seus objetivos de sempre: derrotar o governo do PT. Isso está nas tentativas de indução das matérias e manchetes da mídia. No mesmo sentido vão as opiniões de políticos e colunistas da direita, como FHC e Serra, Merval e Jabor.
A diminuição da repressão policial nos últimos protestos está deixando visíveis os sinais de comportamentos preocupantes para a democracia. São atitudes tipicamente de direita e fascista que se destacam em meio à confusão e baixo nível de organização das manifestações. Primeiro, temos as ações cada vez mais abertas de provocadores, geralmente policiais infiltrados mas provavelmente também elementos de extrema-direita. Segundo, crescem as manifestações de intolerância contra os símbolos dos partidos presentes nos protestos, em sua totalidade, partidos de esquerda que, inclusive, deram origem ao próprio movimento pelo passe livre. Finalmente, integram-se aos protestos setores mais altos da classe média, identificados geralmente com posições conservadoras e de direita.
O momento de se reconhecer a legitimidade dos protestos já passou. A presidenta Dilma, Lula, o PT, a CUT e a UNE, para nos referirmos à base política do governo, já fizeram isso. Entramos agora em outra fase, a de construção do “segundo passo”, quando as grandes forças políticas tentam influir sobre os rumos do movimento. Se o ponta-pé inicial foi dado pelas esquerdas e redes sociais, vivemos agora a tentativa de seu envolvimento pela direita, estimulada pela significativa base social de classe média conservadora que se integra aos protestos.
Precisamos separar o joio do trigo, ou seja, o movimento que quer avançar a democracia daquele que defende o caos e o retrocesso. Antes de tudo, quem tem poder para fazer isso é a presidenta Dilma e Lula, com a sua forte liderança sobre a base popular. Haddad não pode segurar mais uma decisão que vai ter de tomar inevitavelmente. Ele é a chave, junto com o governo federal, para se politizar o movimento por meio de uma nova política pública de transporte. Temos que colocar o debate político concreto no centro do movimento, como a questão da nova cidade democrática, a reforma política e a regulação dos meios de comunicação, por exemplo. À direita interessa a despolitização do movimento para aprisioná-lo à sua narrativa de sempre: a campanha udenista contra a corrupção...do governo petista, é claro. Portanto, é hora do PT agir e voltar às ruas.
enviado por Castor Filho <castorphoto@gmail.com>
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